Redação
Pote de burnout
Nota 50.
O pote de burnout no fim do arco-íris.
Na Grécia Antiga, o pressuposto para praticar a Filosofia era estar no tempo livre. A reflexão filosófica, pensavam os gregos, dependia da ociosidade, pois uma mente ocupada com outras questões não realizaria bem a atividade racional.Contudo, a sociedade contemporânea, influenciada pela ideologia neoliberal, em nome da produtividade suprime o ócio e condiciona os indivíduos a, sempre que possível, resolver mais de uma tarefa ao mesmo tempo. Como que em uma maratona interminável, eles percorrem um caminho cujo fim é a exaustão física e psicológica. Nesse cenário, a educação é essencial para formar profissionais que saibam equilibrar o ofício com a qualidade de vida.
Em primeiro lugar, o neoliberalismo, ao enfatizar a meritocracia, coloca o indivíduo como o único responsável pelo seu sucesso — ou fracasso — econômico. “Coaches”, por exemplo, com seus livros e suas palestras motivacionais, são contratados por empresas para aprimorar o rendimento dos funcionários. A figura do mentor — antes associada a um guia para a vida — se tornou crucial para quem quer progredir na carreira. O trabalho, nessa conjuntura, é a tônica da existência. Desse modo, o ócio não é experimentado com prazer, mas culpa — afinal, a diversão não ajuda a conquistar o cargo almejado. Ademais, a multitarefa, aparentemente, permite maior produtividade. Todavia, viver em um estado de atenção difusa intensifica o esgotamento o qual todos estão sujeitos na coletividade. Em vez de transformar o homem em uma máquina mais eficiente, a tentativa de realizar vários compromissos ao mesmo tempo, além de diminuir a qualidade dos resultados, acelera a velocidade com que ele alcança o pote de burnout no fim do arco-íris. Logo, é imprescindível a mudança desses valores que impossibilitam o ócio saudável.
A educação, por sua vez, é o meio pelo qual a sociedade poderá superar esse desafio. Conforme afirmou Paulo Freire, não basta, durante o letramento, ensinar ao aluno que “Eva viu a uva”, mas apresentar o saber de forma que o aluno saiba refletir para contextualizar a frase aprendida na sua vivência. Essa posição pedagógica é relevante para o problema abordado, porque objetiva aliar o ensino técnico à formação de cidadãos com autonomia crítica — nesse caso, trabalhadores que consigam aproveitar o ócio. Assim, uma escola que não opere em ritmo frenético, colocando os alunos para fazer mais e mais exercícios, por exemplo, contribui com o desenvolvimento de uma relação sadia com o tempo livre, ao não pressionar os discentes a produzir constantemente. A adoção, no ambiente educacional, de atividades voltadas para a introspecção, o convívio e as brincadeiras coletivas fortalecem o senso de que há, na vida, momentos nos quais o lazer é um imperativo para o bem-estar. Portanto, o sistema educacional pode ser o remédio para essa doença que só traz cansaço.
Em suma, a necessidade de melhorar a produtividade e o uso da atenção dispersa em mais de uma tarefa extenuam o indivíduo da contemporaneidade. Diante disso, uma educação que priorize o desenvolvimento intelectual somado com uma contemplação saudável do ócio é o que pode resgatar o envolvimento adequado do homem com o lazer.